A crise econômica mundial significou, quase que automaticamente, a redução dos preços no atacado, mas ainda não chegou ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que baliza a meta de inflação do governo — em 2009, 4,5%, com folga de dois pontos percentuais. Ontem, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou que o Índice Geral de Preços–Mercado (IGP-M) registrou uma queda de 0,45% na primeira prévia de março, que compreendeu o intervalo entre 21 e 28 de fevereiro. No mesmo período do mês anterior, o indicador teve alta de 0,42%.
Seguindo uma tendência contrária, o IPCA, apresentado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), saltou de 0,48% em janeiro para 0,55% no mês passado. Esse movimento, segundo a coordenadora de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, está relacionado à alta de 4,77% do grupo de educação. O aumento das mensalidades escolares foi de 5,64% no período. “É preciso olhar com cautela os números de fevereiro, porque a alta da inflação está concentrada no grupo de educação”, ressalta Eulina, sinalizando que a alta foi sazonal e a perspectiva é de baixa do IPCA nos próximos meses.
Os outros grupos analisados pelo IBGE, como os de alimentação e bebidas (0,27%), habitação (0,22%), artigos de residência (0,28%), transporte (0,24%), saúde (0,46%) e despesas pessoais (0,31%) registraram variação positiva, mas inferiores a janeiro. “Esses itens refletem indicadores como a queda da produção industrial e a perspectiva de baixa da massa salarial, além do crédito mais restrito”, explica a coordenadora do IBGE. No caso de alimentação, o produto que teve o maior reajuste foi o chuchu, com alta de 28,75% em fevereiro.
O economista-chefe do WestLB, Roberto Padovani, reforça que o IGP-M teve uma retração pois foi afetado diretamente pelos preços das commodities — o repasse da queda foi automático. O IPCA não acompanhou o movimento do IGP-M porque ainda sofre com a elevação dos serviços e com a indexação de contratos, cujo reajuste é atrelado à inflação de 2008, mais elevada. O responsável pela divulgação do IGP-M, Salomão Quadros, considera “natural” essa diferença entre os índices (IPCA e IGP-M). “Os serviços (que tem peso no IPCA) não estão sujeitos ao cenário internacional. A demanda interna não se enfraqueceu tanto assim”, acrescenta.
Lentamente
A economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli, estima que o IPCA deve recuar para a marca de 0,20% a 0,30% nos meses de março e abril. Até porque os IGP’s, com destaque para o IGP-M, mostram uma baixa, principalmente, nos preços do atacado — que estão vinculados às commodities como soja, milho e alumínio. “Existe um ciclo de deflação mundial e não vamos fugir à regra”, avalia.
Ela prevê que o IPCA deve fechar o ano entre 4,20% e 4,30%. Para o economista da corretora Concórdia Elson Teles, o resultado do IPCA veio em linha com as expectativas. “O que vai continuar pressionando o índice será o grupo de serviços. O país não vai ter deflação como lá fora. Mas a desaceleração econômica vai contribuir para mitigar qualquer tipo de pressão”, explica Teles.