Lentamente, o mercado de crédito se recupera do tombo causado pela crise financeira. Há sinais de melhora, mas em ritmos distintos nas operações para pessoas físicas e jurídicas. Nos financiamentos para as famílias, a redução dos spreads bancários - diferença entre taxa de captação e empréstimo - e a estabilização da inadimplência apontam para maior oferta nos bancos e demanda crescente dos clientes.
Já nas empresas, a reação é bem mais lenta. Há mais concessões de empréstimos e o spread recuou pela primeira vez desde o agravamento da crise. Mas o ritmo de concessões ainda está mais baixo do que no fim do ano passado. E a inadimplência atingiu o nível mais alto em dois anos.
Números apresentados ontem pelo Banco Central (BC) reforçam a avaliação de que o crédito para as pessoas físicas está voltando à normalidade. A concessão de novos empréstimos em março cresceu pela primeira vez no ano e mostra que os clientes estão voltando às agências para tomar crédito.
Em março, bancos concederam diariamente uma média de R$ 199 milhões em financiamentos para a compra de veículos. O valor é 13,2% maior que o de fevereiro e 48,5% superior ao de dezembro de 2008.
No crédito pessoal, os brasileiros tomaram R$ 510 milhões por dia, montante 3,8% superior ao de fevereiro e 40,1% maior que o de dezembro.
"Não adiantava o governo agir para aumentar o crédito se o cliente não estava seguro em tomar crédito. Agora, com a melhora de alguns indicadores de emprego e renda, parece que as famílias estão um pouco mais confiantes", diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges.
Os bancos também parecem estar menos receosos. Em março, o spread caiu pelo quarto mês seguido, de 52,6 pontos para 50,1 pontos.
O número cai conforme o risco da operação diminui. Com essa redução, o spread atingiu o nível mais baixo desde junho de 2008, antes da crise. "O crédito parece estar se recuperando, mesmo lentamente. Concessões, queda na inadimplência e spread são indicadores bons", diz em relatório o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.
Nos financiamentos para as empresas, o cenário, embora melhor, ainda está complicado. Em março, a média diária de novos créditos subiu 5,3% em relação a fevereiro, para R$ 4,589 bilhões. Mas o volume ainda é 10,1% menor que o de dezembro.
"O nível ainda é baixo. Mas existe um problema maior, que é a falta de sinais de demanda por parte das companhias", diz Borges, da LCA.
Ele afirma que muitas empresas têm se deparado com a queda das receitas e dificuldade em rolar as dívidas antigas. "Sem opção, muitas têm de atrasar os pagamentos", diz.
O chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central, Altamir Lopes, diz que a oferta de crédito retraída ainda é o fator por trás da alta no índice de calotes, já que as companhias estão com dificuldades de tomar novos empréstimos para rolar suas dívidas.
Segundo o BC, a inadimplência das empresas atingiu 2,6% em março, o mais alto nível desde abril de 2007. Nas pessoas físicas, a taxa seguiu tendência contrária e oscilou para baixo, de 8,4% para 8,3%.
Mas há sinais positivos para as pessoas jurídicas, como a redução dos spreads. Essa margem caiu de 19 pontos para 18 pontos entre fevereiro e março, na primeira redução desde o agravamento da crise em setembro do ano passado. Segundo o relatório do Fator, que vê "sinais ambíguos" no crédito às empresas, a melhora em alguns indicadores veio do comportamento mais agressivo dos bancos estatais.